domingo, 12 de junho de 2011

Lição de pornopolítica


11 de junho de 2011
Autor: Nelson Motta 
pequeno normal grande
“Quando atacam um companheiro nosso, temos que defendê-lo. Nem que depois a gente o chame num canto e diga que ele está errado.” A frase poderia ser de um chefão mafioso para a quadrilha, ou de um lobo para a matilha, mas é a mais perfeita expressão do conceito lulista de ética, que se aplica tanto a Delúbio e Zé Dirceu como a Sarney, Renan e Severino.
Claro que depois Lula os chamou num canto e disse que eles estavam errados, nós sabemos como Lula é rigoroso. Na ética companheira o mais importante não é fazer errado, é não ser flagrado. Falar com a língua presa não é nada, o problema é ter preso o rabo.
Assim como os livros do MEC ensinam que 10 – 7 = 4, e que falar errado é só um preconceito linguístico, o lulismo trouxe conceitos éticos inovadores, como o que aceita o roubo e a corrupção, desde que seja para o partido. Mas se for em causa própria, basta chamar o partido para defender o companheiro e salvá-lo da cadeia. Depois será chamado de lado para ouvir que estava errado.
No Brasil pós-Lula ninguém se envergonha de ser eleito para defender os interesses do país e dos seus eleitores — e tambem dar consultas para empresas privadas que só têm interesse em seus lucros.
Mas não é ilegal, gritam. É apenas imoral. Em países sérios seria, mas aqui nunca será, porque os deputados jamais vão legislar contra seus próprios interesses. É só uma afronta a homens e mulheres honestos que lutam para ganhar a vida e pagar impostos para sustentar essa gentalha. O traficante de influência é pior do que o de drogas, porque vende o que não lhe pertence.
Mesmo assim eles não conseguem viver com o salário de 25 mil — maior do que o de parlamentares americanos e japoneses — e por isso precisam manter outro emprego, como Palocci e outros “consultores”. São deputados part time, que servem mais a seus clientes do que ao país.
Com todo respeito pela minoria que ainda resiste, atualmente a deputança parece apenas uma boquinha meio período, um trampolim para subir na vida e nivelar por baixo. Como diz a velha piada, mais atual do que nunca, eles estão fazendo na vida pública o que fazem na privada.
Fonte: O Globo, 10/06/2011